Estava aqui a ver os inúmeros álbuns "Verão 2012" que se multiplicam no Facebook, assim como o número crescente de baby blogs e family blogs que há pela internet fora, e dei comigo a pensar no impacto que a exposição das crianças neste tipo de meios terá no seu futuro. Antes de avançar, devo dizer que este texto não pretende ser uma crítica a quem publica fotografias dos filhos nas redes sociais: não só porque a esmagadora maioria das pessoas o faz (e quem sou eu para criticar), como sobretudo porque o motor que move grande parte destes Pais é o orgulho puro e duro nas suas crias. Ainda assim, não consigo deixar de pensar no assunto – e de aqui deixar algumas reflexões.
Tenho uma amiga que tem dois filhos adoptados. Quando os aceitou, foi-lhe dado a conhecer o passado de cada um, mas ela e o marido optaram por não contar a história deles a ninguém, nem mesmo à família. Ela diz - e com toda a razão - que essa história é um património que a eles pertence e que, como tal, só eles (a seu tempo e caso o entendam), terão o direito de partilhá-lo. Para além de um sinal de enorme respeito pelos filhos, este é também um gigantesco acto de abnegação: porque imagino que existam imensas alturas em que eles têm vontade de desabafar e de dividir aquela que é, agora e para todos os efeitos, uma parte importante da história da família. Mas não o fazem e isso é mesmo de louvar.
Quando vejo fotografias de crianças nas redes sociais - para além do medo óbvio de elas irem parar às mãos de pedófilos, que isto há que ter consciência de que o que se publica na internet fica lá para sempre, mesmo que apaguemos os ficheiros a posteriori -, vejo (uma vez mais) o património delas, ali à vista de toda a gente. Quando aquelas crianças forem crescidas, já terão uma grande parte da sua vida exposta, visionada, dissecada, partilhada e (quem sabe) criticada; história essa que nunca serão capazes de editar ou eliminar, por estar à mera distância de um clique. Sabe Deus em quantos computadores residem já estes fragmentos da vida dos nossos filhos. E já pensaram no poderoso instrumento de (cyber)bullying que estes ficheiros poderão constituir? Medo, é a palavra que me ocorre.
Não quero que pensem com isto que sou alguma fundamentalista paranóica: aliás, no meu Facebook pessoal tenho duas ou três fotografias normalíssimas (se bem que pouco explícitas) dos meus filhos, que eles existem e não tenho quaisquer motivos para escondê-los. Mas é basicamente isso: não há cá a criança a mudar a fralda, a comer a primeira papa, a fazer cocó no penico, a fazer o pino, a dar beijocas gordas e fofas, a deitar a língua de fora ou a fazer castelos na praia. Porque essa é a história de vida deles e, como tal, (só) a eles pertence.
Mas isto, é claro, sou eu.
13 comentários:
Mas eu entendo que haja pessoas que por ignorância o façam. Há muitas pessoas menos informadas que não têm consciência de que qualquer foto que seja publicada na net passa a ser de quem a quiser ter.
Mas o que me choca mais é ver pessoas altamente informadas e cientes dos perigos que é a internet, a aproveitarem-se dos filhos, quer no Facebook, quer nos blogues, para brilharem e, quiçá, conseguirem a fama. Ele são fotos dos filhotes a dormir, ele são fotos dos filhos a fazer o pino, ele são fotos dos filhos na praia quase nus ou até nus, ele são fotos dos filhos em todo o lado... E, como se não bastasse, ainda dizem o sítio onde estão a passar férias, onde vão jantar, e se for preciso até a escola onde os filhos andam. A sorte desta gente é só uma - os filhos não terem caído ainda nas graças de nenhum pedófilo. Caso contrário, queria ver onde é que já iam.
como sabes, e a bem do equilibrio da humanidade, não sou mãe, mas subsrevo TOTALMENTE; e se há crianças que amo como se fossem da minha familia, e que me dá imenso orgulho ver as suas fotos, receio sempre por eles.
com a tua licença parilharei
a vulgarização da internet e das redes sociais trouxe estas desvantagens. Infelizmente há muita maldade no mundo e os pais devem ser os primeiros a defender a imagem dos filhos.
Querida Kitty Fane,
Não podia concordar mais: uma coisa é não ter consciência dos possíveis efeitos colaterais deste tipo de acções; outra infinitamente pior é ter plena consciência e ainda assim seguir em frente, em proveito próprio.
Resta-me desejar que estas últimas pessoas nunca sintam na pele a dimensão das ditas consequências... quanto mais não seja pelas crianças a seu cargo.
Um grande beijinho!
É claro que tens a minha licença, Mónica! :-)
Concordo em absoluto que devemos ter imenso cuidado, e por isso o rosto do meu filho nunca aparece no meu blogue, mas tenho algumas fotografias dele no facebook, mas tenho aquilo tudo artilhado para só os meus amigos verem e tenho um grupo muito restrito e acredito que os hackers não vão lá...
Tens toda a razão. Sempre tive cuidado com a questão da segurança e inclusivamente já tive que me aborrecer por causa de fotos da minha filha publicadas sem a minha autorização. Claro que com a maior das inocências... mas quem anda publica coisas na net tem que ter a consciência que há por aqui de tudo... muita gente boa... e muita gente má.
No que nunca tinha pensado, foi na perspetiva do "património das crianças". E tens razão. Que direito teria eu de andar a publicar fotos da minha filha, a torná-las disponíveis on-line para sempre? Essa há-de ser unica e exclusivamente uma escolha dela, um dia mais tarde...
Concordo plenamente. Tenho amigos que ficam chateados quando me pedem para publicar fotos e eu respndo que não publico fotos dele no facebook. paciência.
Nao poderia estar mais de acordo! Respeito a liberdade de quem publica as fotos das suas crias! Aqui deste lado ainda nao tenho crianças, mas falo diversas vezes da minha sobrinha no blogue, e é por ter essa consciência que NUNCA a identifico, fotografo ou exponho... Os riscos sao reais e enquanto crianças nós os adultos somos responsáveis por elas! E essa responsabilidade pode ser-nos cobrada por eles próprios quando crescerem.
É um assunto complicado.
Pessoalmente não gosto de publicar nada e nem de ser identificada em coisa alguma.
Tenho uma criança na família que adora comunicar no facebook. Publica fotos das férias e das brincadeiras na escola. Ela sabe que não deve revelar nada sobre si, mas havendo fotos, algo sempre se comunica.
Compreendo o que a faz fazê-lo, é um gosto enorme de comunicar por esse meio imediato e receber logo a opinião dos amigos.
E fá-lo com total inocência. É tão inocente que uma pessoa nem se atreve a conspurcar algo que deve mudar gradualmente com o crescimento, e não abruptamente com alarmismos. Porém, já guardei um artigo que fala dos perigos do Facebook para lhe dar a ler...
Ela a as amigas que estão a entrar na adolescência gostam de roupas, de experimentar estilos, de começar a usar pinturas, etc... e isso é publicado. No caso dela existe um total desconhecimento para os perigos da sensualidade, porque ela não tem noção disso, só as pessoas que já têm sexo na mentalidade pensam no que uma criança ainda não pensa. Ela é cautelosa e não fala com desconhecidos, não conta nada a estranhos, não diz a idade verdadeira, nem o local onde vive. Mas isso é pouco, a meu ver, embora já seja bom.
Proibir uma tendência é complicado e não sei se se deve, mas educar e acompanhar de perto acho importante. O seu facebook é aberto à família, que o pode consultar se quiser. Temos de os educar e confiar nos valores que lhes transmitimos e só se virmos isso a falhar é que é necessário uma correcção de rumo.
Vai sair ou já saiu uma lei que proíbe o uso de equipamento audiovisual nas ESCOLAS, o que para mim não faz qualquer sentido. Parece-me até anti-constitucional - não se deve proibir a liberdade, apenas educar e ter cautela, jamais irradicar direitos. Os alunos agora não podem levar um gravador para a sala e gravar a matéria, ou tirar fotografias... Eu fiz isso em criança e não prejudiquei ninguém ou fui prejudicada. Lá porque agora tudo é mais fácil e possa ser feito sem ser percebido, acho absurdo que se faça uma nova lei que pune com multa (dinheiro) os alunos que tiverem equipamento audiovisual consigo.
Quanto às fotos de bebés, também me faz muita confusão, mas o que mais me faz confusão NÃO SÃO as FOTOS em si, mas a PROPAGANDA e a forma como alguns PAIS USAM OS FILHOS para se manterem populares nas redes sociais. ISSO incomoda-me muito mais, perceber que há pais que "montam" cenários para ficarem com os filhos "bem" na fotografia, porque os querem exibir com uma frasesinha descritiva que parece inocente mas tem muitas segundas intenções.
A vantagem dos bebés é que estes em poucos meses mudam tanto que ficam irreconhecíveis. De modo que a sua identidade sempre fica algo protegida. Crianças já me custa mais. Acho que a partir do momento que que se chega a uma idade em que pouco mais muda, devia-se parar de publicar fotos. Isto porque vejo em blogues pessoas que publicam fotos suas quando crianças e nessa idade a menos que alguém as tivesse conhecido, são realmente difíceis de reconhecer nos traços de adultos.
Olá, Portuguesinha,
Concordo plenamente, com os adolescentes a coisa torna-se definitivamente mais complicada. Mas como dizes (e bem) há que prepará-los para a vida, educá-los da melhor maneira, transmitir-lhe os valores corretos e... acreditar no resultado do nosso esforço.
Também tenho a mesma opinião relativamente aos bebés. Toda a gente tem curiosidade em saber como eles estão a evoluir e, desde que não sejam fotografias deles despidos (há limites para tudo), não acho que nada de mal venh ao mundo.
Beijinhos!
Olá, Luisa T.S.,
Percebo perfeitamente aquilo que dizes relativamente à identificação (e posterior localização) das crianças pela parte de pedófilos, mas para mim o problema começa logo no acesso deles a fotografias cuja "simples" visualização lhes possa dar algum tipo de prazer... percebes? E toda a gente sabes que eles têm sempre os computadores recheados de fotografias de crianças...
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