Ao fim de quatro meses de licença de maternidade, quase sempre de cara lavada, calças de fato de treino e havaianas, arranjar-me para uma festa prometia. Ingenuamente, achei que o vestido comprado um tamanho acima do habitual (porque não havia o meu número - e ainda bem) iria resolver a questão, mas não demorou muito para perceber que esse seria o menor dos meus problemas...
Depois de meia-hora a tentar decifrar um enigma chamado "soutien multi-funções" (que a avaliar pelo preço devia, no mínimo, colocar-se sozinho), ponho o vestido e avanço determinada para a maquilhagem. Qual não é o meu espanto, após alguns segundos de estranheza pela visão quase esquecida dos meus bâtons e companhia, quando verifico que está quase tudo podre devido à falta de uso. O doseador da base está entupido, o conteúdo amarelado, os glosses secos e peganhentos e a máscara de pestanas, para além de ressequida, cheira a esgoto.
Com o caixote do lixo a abarrotar, a mão destreinada e o relógio a avançar impiedosamente, o resultado final parece-se perigosamente com o Ronald McDonald. Sem tempo para rectificações, conformo-me com o meu novo
look à palhaço pobre e prossigo para os acessórios. Após alguns minutos a tentar pôr uns brincos (os furos estavam a querer fechar), resolvo pôr uns sapatos que ficam a matar com o vestido... e que têm uns modestos 11 cm de salto.
Levanto-me com uma vertigem e avanço com a subtileza das hipopótamas bailarinas da Disney em direcção às escadas, que desço agarrada às paredes, ao encontro de uns pequenos olhos esbugalhados, que me analisam atentamente (já não se deve lembrar da mãe sem rabo-de-cavalo).
Olho de relance para o espelho e o meu orgulho pela missão cumprida desvanece-se à velocidade da luz, ao perceber que, após todo este esforço, o corte império do vestido me faz parecer grávida... outra vez.
Chego à conclusão de que sou a Bridget Jones. Umas quantas sequelas à frente, já casada, mas sempre igual a si mesma...