quinta-feira, 3 de julho de 2014

Das coisas que mexem connosco


Ontem fui almoçar com uma amiga que não via há imenso tempo e a primeira coisa que ela me disse, mal nos sentámos à mesa, foi "mais vale dizer-te já, tive um princípio de AVC". 

Lembro-me de olhar para ela durante alguns segundos enquanto processava a informação e tentava perceber se ela estava a brincar. Como se alguém brincasse com uma coisa daquelas. Por um lado nem queria acreditar (tem a minha idade, é uma pessoa saudável, com uma vida normal), por outro... trabalhava imenso e dedicava-se de corpo e alma ao trabalho em detrimento de tudo o resto: da família, dos amigos... e da própria saúde.

Ainda assim, graças a Deus ela teve sorte: foi socorrida a tempo e as sequelas foram incipientes. Mas a verdade é que quase morreu à frente das filhas, o que a fez levar o "aviso" muito a sério: despediu-se do emprego que tanto a consumia e agora trabalha a partir de casa. E apesar de ganhar significativamente menos, está incomparavelmente mais serena e feliz.

E eu dei por mim a pensar se vale mesmo a pena viver ao ritmo a que (também) eu vivo. Andar sempre a mil à hora, não ter tempo para nada e atender os meus amigos (quando atendo) com a mesma frase "é urgente?", para eles me responderem invariavelmente com um "está descansada que não te roubo muito tempo".

Desde ontem que não páro de pensar nisto. Porque a minha amiga ainda teve uma segunda oportunidade. E eu (assim como todos os que vivem assim) podemos não ter a mesma sorte.

3 comentários:

Caco disse...

Durante muitos anos também tive um trabalho mega stressante que me custou um relacionamento de 6 anos e levou o meu corpo a reagir com o aparecimdnto do síndrome vertiginoso que ainda hoje aparece sempre que estou mais stressada. Definitivamente, não vale mesmo a pena.

Caco disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Xica Maria disse...

Não vale apena. Prefiro viver e fazer parte da vida do meu filho do que viver para trabalhar... afinal, quuanto tempo vamos durar?!
O meu pai trabalhava imenso, muitas vezes não tinha paciência para mim e para a minha irmã porque estava muito cansado. Morreu aos 42 anos. Tinha eu 17.
Ganho pouco... mas também ganho muito.