quarta-feira, 2 de abril de 2014

Do autismo


No outro dia entrámos no elevador de um centro comercial e deparámo-nos com uma cena fora do comum: um Pai tentava que filho (que teria uns 10, 12 anos) saísse do elevador - mas ele só gritava que queria ir para o -1, recusando-se a sair noutro andar que não aquele. Como não conseguiu convencê-lo, nós entrámos e, conforme o elevador começou a descer, o Pai lá lhe explicou que tinham vindo do -1 mas que agora precisavam de ir a outros andares. Novo ataque. Até que, a certa altura, os meus filhos repararam que o mostrador digital do elevador estava avariado e que o -1 (para onde nós íamos) parecia um -8. Nova crise, ainda pior que a anterior: que o -1 tinha desaparecido e que ia ficar ali para sempre.

Quando finalmente saímos (Pai e filho ainda ficaram no elevador), os meus filhos interrogaram-nos sobre o que se passaria com aquela criança. E nós respondemos que muito provavelmente teria autismo, "uma alteração genética que torna as pessoas mais inteligentes que a média mas que faz com que tenham alguma dificuldade em se relacionar com os outros, assim como com o mundo que as rodeia."* Conseguimos identificar os sintomas (acho eu) porque já vimos e lemos muito sobre o assunto - e porque existem filmes e séries como Rain Man ou Parenthood que nos alertam para estas coisas através de personagens como Raymond Babbitt, Max Braverman e Hank Rizzoli, que cumprem o importante papel de consciencializar as massas para os desafios que implica lidar com o autismo nas suas mais variadas formas.

Tudo isto a propósito de hoje se assinalar o Dia Mundial da Consciencialização do Autismo, sobre o qual poderão saber mais informações aqui. E de todos termos a obrigação de respeitar e apoiar as tanto as famílias (que são obrigadas a gastar o dobro dos apoios que recebem) como quem sofre desta alteração. Uma grande vénia para estas pessoas, é o que vos digo.

* Nota posterior: Esta foi a explicação que dei aos meus filhos naquela altura, explicação essa que tentei que não fosse totalmente pejorativa. Tentei (como tento sempre) evitar palavras como "doença" ou "problema" e realçar algum aspecto positivo para que o quadro não resultasse, aos olhos deles, completamente negativo. A parte de os autistas terem todos uma inteligência acima da média já foi (oportunamente) contestada pela Pipa na caixa de comentários. A ela, aqui deixo o meu agradecimento.

2 comentários:

Pipa disse...

terei de discordar dessa definição de autismo. Provavelmente refere-se apenas ao autismo de alto funcionamento, sendo que existe todo um espetro de perturbações. a maior parte dos autista nao tem uma inteligencia superior à media, mas esses sao os casos que se falam mais por serem mais notórios

Mary disse...

Olá, Pipa,

Muito obrigada pelo teu esclarecimento. Conforme expliquei, não sou nenhuma perita em autismo, apenas identifiquei alguns sintomas típicos (a falta de contacto visual, a repetição dos argumentos, a obstinação, etc.) e tentei dar uma explicação aos meus filhos que não fosse totalmente pejorativa. Tentei (como tento sempre) evitar palavras como "doença" ou "problema" e realçar algum aspecto positivo para que o quadro não resultasse, aos olhos deles, completamente negativo.

Beijinhos!