sábado, 8 de setembro de 2012

Ainda os custos associados ao regresso às aulas...

Não resisto a partilhar este texto (se bem que do ano passado), em que uma portuguesa residente na Holanda relata ao jornal Público as enormes diferenças entre os dois Países...

"A propósito do desafio sobre os novos hábitos de poupança na abertura do ano lectivo, resolvi partilhar a minha experiência uma vez que vivo no norte da Holanda, onde tudo se passa de modo completamente diferente.

Em primeiro lugar, os livros são gratuitos. São entregues a cada aluno no início do ano lectivo, com um autocolante que atesta o estado do livro. Pode ser novo ou já ter sido anteriormente usado por outros alunos. No final do ano, os livros são devolvidos à escola e de novo avaliados quanto ao seu estado. Se por qualquer razão foram entregues em bom estado e devolvidos já muito mal tratados, o aluno poderá ter de pagá-los, no todo ou em parte.

Todos os anos, os cadernos que não foram terminados voltam a ser usados até ao fim. O contrário é, inclusivamente, muito mal visto. Os alunos são estimulados a reusar os materiais. Nas disciplinas tecnológicas e de artes, são fornecidos livros para desenho, de capa dura, que deverão ser usados ao longo de todo o ciclo (cinco anos).

Obviamente que as lojas estão, a partir de Julho/Agosto, inundadas de artigos apelativos mas nas escolas a política é a de poupar e aproveitar ao máximo. Se por qualquer razão é necessário algum material mais caro (calculadora, compasso, por exemplo), há um sistema (dinamizado por pais e professores, ou alunos mais velhos) que permite o empréstimo ou a doação, consoante a natureza do produto.

Ao longo do ano, os alunos têm de ler obrigatoriamente vários livros. Nenhum é comprado porque a escola empresta ou simplesmente são requisitados numa das bibliotecas da cidade, todas ligadas em rede para facilitar as devoluções, por exemplo. Aliás, todas as crianças vão à biblioteca, é um hábito muito valorizado.

A minha filha mais nova começou as suas aulas de ballet. Não nos pediram nada, nenhum fato nem sapatos especiais. Mas como é universalmente sabido, as meninas gostam do ballet porque é cor-de-rosa e porque as roupas também contam. Então, as mães vão passando os fatos e a minha filha recebeu hoje, naturalmente, o seu maillot cor-de-rosa com tutu, e uns sapatinhos, tudo já usado. Quando já não servir, é devolvido. E não estamos a falar de famílias carenciadas, pelo contrário. É assim há muito tempo.

O meu filho mais velho começará a ter, na próxima semana, aulas de guitarra. Se a coisa for levada mesmo a sério, poderemos alugar uma guitarra ou facilmente comprar uma em segunda mão.

Este sistema faz toda a diferença porque, desde que vivo na Holanda, terminou o pesadelo do início do ano. Tudo se passa com maior tranquilidade, não há a febre do "regresso às aulas do Continente" e os miúdos e os pais são muito menos pressionados. De facto, noto que há uma grande diferença se compararmos o nosso país e a Holanda (ou com outros países do Norte da Europa, onde tudo funciona de forma idêntica). Usar ou comprar o que quer que seja em segunda mão é uma atitude socialmente louvável, pelo que existem mil e uma opções. Não só se aprende desde cedo a poupar e a reutilizar, como a focar as atenções, sobretudo as dos mais pequenos, nas coisas realmente importantes.

Regressar à escola é muito bom, para os miúdos, mas também para as famílias."

Helena Rico, 42 anos, Groningen, Holanda
(artigo publicado aqui)

11 comentários:

idiot disse...

wow, realmente é bem verdade, aqui as coisas em segunda mao sao muito mal vistas, mas cheira-me que esse perconceito vai deixar de existir porque nao há outra maneira infelizmente de as familias sobreviverem.

lucia disse...

Realmente muito diferente de cá!

Mafaldix disse...

Eu acho que vamos continuar na mesma. Infelizmente, claro. E é uma grande pena. Pode ser que esteja enganada e que a crise nos ajude a repensar o modo como vivemos e como gastamos o nosso dinheiro.

Happy Brunette disse...

Por cá a regra da ostentação aplica-se a tudo e o regresso à escola não é excepção, no entanto sei de algumas escolas e em zonas do pais que já se vão trocando os livros escolares, mas cá como é negócio praticamente todos os anos os livros mudam e lá começa tudo outra vez...

MJ With Love disse...

mais cedo ou mais tarde começaremos a valorizar também os artigos em 2ª mão; pena é ser pelos piores motivos e quando já não há mesmo outra solução
ao menos na Holanda e noutros países nórdicos, as pessoas fazem-nos sem que seja por necessidade; é simplesmente para não desperdiçar

excelente artigo!

xo

MJ

Su disse...

E assim se vê bem a diferença entre paises civilizados e paises com a mania da grandeza...

Quiosque do Ken disse...

Excelente artigo de facto. É abismal a diferença entre os dois países.

Atlântida disse...

Lá está: é um país quase falido mas com vícios de rico. Pior, com vícios que nem rico tem, a avaliar pelo texto.

E concordo com a vidasdanossavida: parece-me que continue tudo na mesma. São mentalidades. Porque nada muda, realmente, se as pessoas o fizerem porque não têm opção, continuando as que podem a comprar tudo novo.

Na Holando, e noutros países, têm um bolso mais folgado que o nosso e reutilizam.

Infelizmente, acho que vão ser precisos muitos anos para isto mudar. Se é que muda.

Com a devida licença, vou usar este texto num post, pode ser?

Cookie disse...

A diferença entre um pais civilizado e um país quase terceiro mundista mas que iludido pelo dinheiro que veio de fora andou anos a convencer-se que era rico...

Mary disse...

Podes e deves usar este texto, Atlântida: para além de ele não ser meu, há que meter na cabeça das pessoas que, como diz a Cookie, não passamos de um país quase terceiro mundista convencido de que é rico...!

Joana disse...

Olá!

Andava eu a passear pela blogosfera quando encontrei este post... Eu vivo na Suécia e posso confirmar que aqui a escola funciona de forma muito semelhante ao que foi descrito no texto. Não sei quanto às actividades extra-curriculares pois nunca passei por essa experiência.

Os sites de venda em 2a mão são muito populares. Vende-se de tudo. Se eu comprar um champô e não ficar satisfeita com ele, posso sempre vendê-lo em 2a mão, por um preço reduzido.

Onde trabalho, a grande maioria leva o almoço de casa. Muita gente leva até o seu próprio café num termos.

Não é por necessidade... São simplesmente coisas que estão enraizadas. Eu acompanho as notícias de Portugal e leio bastantes blogs, e parece-me que as coisas estão a mudar um pouco. Mas também é preciso que haja condições para isso acontecer, como haver microondas e espaço de comer nos locais de trabalho (e daí levar-se comida de casa) e os manuais escolares não mudarem o seu conteúdo tão frequentemente...

Beijinhos