quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Dos Partos em Casa




Se há coisa que me tira do sério é a história dos partos em casa. Sempre que ouço a história de (mais) uma mulher que decidiu dar à luz sozinha, esquecendo os milhões de Mães que já perderam a vida a fazê-lo, as tantas ou mais crianças que também morreram no processo e a preciosa – diria mesmo decisiva – ajuda que a medicina pode dar, só tenho vontade de lhes bater. Juro.

Querem ser hippies? Acho lindamente: andem descalças, cultivem uma horta biológica, façam tricô e comprem um sling. Mas por favor não façam como a senhora da notícia, que deixou uma criança órfã de Mãe ao cuidado de um Pai que, sempre que olhar para a filha, se vai lembrar do dia terrível em que a mulher morreu perante ele. Ou como muitas outras que, no final dos nove meses, nada têm para colocar no sling.

Estamos entendidas? Era bom.

10 comentários:

Só Sedas disse...

Sou dentista, estou um bocadinho longe de ser mãe e ninguém sabe o que me passará na cabeça quando decidir sê-lo mas neste momento se me dessem a escolher, não quereria ter um filho num Hospital e sim num sitio onde me sentisse confortável (e é óbvio que confio na Medicina e que os Hospitais não são lugares estranhos para mim. Estudei num).

A mim o que verdadeiramente me tira do sério neste assunto e noutros, é apresentarem estas noticias de maneira a criar escandalo para influenciar a opinião pública e evitar mudanças. Todos temos muito medos de mudanças, especialmente de pensamento. Tentar desacreditar uma pessoa que defende aquilo em que acredita parece num minimo cobarde porque se existem muitas muitas mulheres que não confiam nelas para parir (é mesmo este o termo técnico) há muitas outras que sim o fazem e têm tanto direito como as outras de escolher o modo como querem trazer os seus filhos ao mundo. É um risco que se corre, é sempre um risco. Quantos bebés não nascem com paralisia cerebral por após um parto hospitalar por tempo prolongado? Ou que após alguma complicação apanham infecções secundárias graves? A diferença é que no último caso culpa-se o Hospital, o Estado mas quando as coisas correm mal em casa, a mãe e a familia é que assumem a responsabilidade. Riscos, existem sempre quer num procedimento quer noutro. Não sejamos tão extremistas para nenhum dos lados...

Mary disse...

Olá, Só Sedas,

Antes de mais, muito obrigada pela tua opinião sincera e bem fundamentada. Neste caso (como em tudo na vida) não existem verdades absolutas, nada é 100% preto ou branco.

É verdade que existem imensos partos hospitalares que (infelizmente) correm mal. Eu própria já me deparei com alguns casos complicados, gritantes até. Resultantes de maus diagnósticos, negligência médica, estupidez pura e dura, you name it.

Ainda assim - e tendo em conta os muitos riscos inerentes a um parto -, continuo a achar que o mais sensato é usufruirmos de toda uma série de meios (humanos e tecnológicos) que possam, caso alguma coisa corra mal, vir em nosso auxílio. Fazendo bem as contas, acho que o risco acaba por ser, de uma forma geral, significativamente menor.

Finalmente, e apesar de termos opiniões claramente discordantes relativamente a este assunto, folgo em constatar que tenho leitoras simpáticas, bem-educadas e dialogantes. :-)

Lúcia disse...

Mary, tb não compreendo. Aceito que hajam outras opiniões, mas não é de todo a minha. Tive 3 filhos, o 1º e o 3º tive-os num hospital particular onde tudo correu muito muito bem, com um médico 10*****. Onde tive todo o conforto, e imenso carinho, e onde senti a maior das seguranças em termos médicos! O meu filho do meio teve por razões médicas que nascer num hospital público, porque tinha que ser sujeito a uma intervenção médica complicada por um problema detectado na gravidez, que só se fazia nesse hospital. Enfim, muito podia dizer sobre esse parto, mas não me quero alongar. Esse meu filho, o António, veio a falecer 1 semana depois, porque o problema dele era realmente muito grave. Pouco tempo depois ouvi a história de uma conhecida da nossa praça, que decidiu ter o filho em casa - Adelaide de Sousa. Ela correu risco de vida e o filho também, acredite que nunca mais consegui olhar para ela da mesma maneira, e não vejo nada feito por ela. Eu que tinha feito tudo tudo para tentar ter o meu filho cá, fui inclusivamente para fora do país consultar o suprasumo mundial no problema dele… e havia 1 mãe a por o filho em risco…
Enfim, desculpe o desabafo, mas para mim um parto é sempre uma questão médica, e tal como nunca me passaria pela cabeça fazer uma intervenção cirúrgica em casa, porque é que um parto há-de ser feito em casa?!
Um beijinho e bom fim de semana

Vida nova disse...

Não podia concordar mais!
Acho sim, que as mulheres devem ter liberdade de escolha, mas sem que essa liberdade coloque em risco a vida da criança!
Já existem muitos hospitais "amigos da mãe e da criança" e que colocam à disposição salas de parto mais naturais, etc etc, mas continuam a ser acompanhadas por profissionais que poderão ajudar caso algo corra mal.
Faz-me realmente muita confusão essas opções.

RITITI disse...

Sou Mãe, e nunca me ocorreu durante a Gravidez ter uma criança em casa. Acho de um EGOÍSMO atroz. Se os médicos/parteiros existem é para ajudar Mãe e Crianças. Não estamos na idade média, e temos que dar graças por ter acesso a tantos meios que permitem casa vez mais diminuir a taxa de mortalidade à nascença.

Mary disse...

Olá, Lúcia,

Não podia ficar indiferente ao teu comentário nem deixar de agradecer a confiança que este blogue mereceu para ouvir a tua história.

Fiquei gelada quando percebi o que aconteceu ao teu António. Não consigo imaginar o que seja perder um filho. Mesmo. Acho que é o maior terror de qualquer Mãe. E eu não sou excepção, muito pelo contrário.

Ainda assim, conseguiste partilhar a tua experiência comigo (connosco) e isso significa IMENSO para mim. Não podia ter mais orgulho nas minhas leitoras (e leitores, quem sabe), sem excepção.

Um grande beijinho e obrigada por estares desse lado (assim como a Vida Nova, a Rititi e todas as demais),

Mary

Lúcia disse...

Mary, obrigada pelas palavras.
Este tema é-me sensível e era mesmo bom que as pessoas percebessem que não necessitam de se colocar em situações de risco, pois a vida já por si, às vezes se encarrega disso e às vezes não corre mesmo bem!
Por outro lado falar do meu António nos sítios e momentos certos é para mim homenageá-lo, pois ele foi um verdadeiro GUERREIRO, no seu curto tempo de vida.
Um beijinho, e é um prazer estar deste lado

Mary disse...

:-)

Portuguesinha disse...

Um tema interessante.
Como mulher (sem filhos) quando jovem a ideia de viver a experiência do parto da forma que fosse muito emotiva apelava bastante. (mais velha e menos energética de saúde já não).
Li algures que as mulheres índias faziam-no de cócoras e que essa é a posição IDEAL, ao contrário da deitada de costas geralmente praticada.

Claro que uma opção destas seria bem acompanhada por pareceres médicos. Muita informação tem de ser absorvida para uma mulher intuir se a ideia é adequada ou não. Até é surpreendente como uma coisa tão "comum", como trazer uma criança ao mundo, nada tem de "fácil" quanto parece. Quando me informei melhor sobre a gravidez e li os riscos que podem decorrer que ameaçam a vida do feto e da mãe, é mesmo uma coisa que não pode ser levada de ânimo fácil.

Alguém aqui menciona a Adelaide de Sousa. O que me lembro dela era a convicção de que não queria ser mãe. Lembro-me de ler isso em inumeras entrevistas e de pensar: "Estás tão errada! Há de chegar uma altura em que vais pensar o contrário".
Ainda bem que percebeu. Foi mãe tarde mas informou-se bastante sobre procedimentos e, agora, diz que é a melhor coisa que lhe podia ter acontecido e a melhor coisa que tem. Disseram-me também que ela ainda amamenta o filho (5 anos) e que faz parte da rede do plano nacional de dadoras de leite materno.

Desculpe tanta informação quando na verdade só queria entender o seguinte:
ANTIGAMENTE, quando não existiam hospitais e tudo acontecia em casa com ajuda de parteiras e de mulheres que passavam pelo mesmo e transmitiam o conhecimento umas às outras, quando não existiam contraceptivos como agora, as mulheres pariam quase de ano a ano.

Criou-se o mito de que isto era muitas vezes fatal para as mães e bebés e quando a medicina surgiu, rapidamente os partos em casa terminaram e foram censurados, assim como as parteiras.

Deixe-me recuar ao que quero entender. É o seguinte: também suspeito (pela lógica), que estes partos caseiros de antigamente tinham probabilidades mais elevadas de correrem mal. Mas aí fiz a minha arvore geneológica e tive de ler muitos livros de registo de nascimento e óbito (muitos mistos) constatei de facto que no passado, século XVIII em particular, morriam bebés mas também era impressionante a quantidade de crianças entregues às portas de igrejas nas conhecidas "rodas" ou deixadas nos degraus da escada da casa de alguém. (seria a casa onde mora o progenitor?). Bastardos eram aos montes.

Voltando ao que quero dizer: centrei-me na ascendência feminina direta, as primogénitas, mas também toda a que estivesse a mim ligada. Numa família de agricultores e jornaleiros (de jorna, entenda-se), eram pessoas que viviam da terra e dela tiravam todos os recursos económicos. Filhos eram há dúzia. Recuei 400 anos na linhagem directa e indirecta de mulheres que antecederam o meu nascimento e nem sequer recordo de encontrar um óbito derivado do acto do parto ou ocorrido dentro de meses. (Sei que existiram mas num ramo secundário e entre muitos partos!) O que li foram muitos nascimentos, com mulheres a serem mães ainda aos 45 anos, uma idade que supostamente é de risco supremo. Fiquei baralhada, questionei aquilo que nos é incutido. Terão as crianças atrasos? Morreriam? A mãe morreria? Não parecia acontecer, porque já lá ia o 12º parto ou assim. Ou será que é este ritmo que faz com que o organismo garanta melhor a saúde e resistencia de mãe e filho? A maioria destas mulheres que estudei morreram muito idosas. Tiveram muitos filhos. Umas ainda aos 45 anos, mesmo até antes de aparecer a menopausa, suponho. E apesar de ver muitos óbitos naqueles cadernos de registos, muitos mesmos, poucos eram "da família", que não era abastada nem tinha recursos diferentes das outras famílias. Conclusão: então nos anos que antecederam os cuidados hospitalares que temos hoje, era perfeitamente concebível que as mulheres possuíssem conhecimentos suficientemente bons para garantir partos saudáveis uma vida inteira.

O que acham disto?

Portuguesinha disse...

Já agora outra curiosidade: no que respeita aos óbitos encontrei bastantes ligados a uma família em particular (Os Salvado, nunca vou esquecer) que também eram aos montes naquela região. Eram uma familia muito numerosa mas também tinham um número de óbitos pós-parto elevado. Encontrei tanta vez este tipo de registo ligado a este nome que cheguei a pensar que antigamente não queriam as crianças e depois de as terem "providenciavam" o óbito, para não ficarem com demasiadas bocas para alimentar. Cruzes! Como eram cristãos, na maioria, jamais deviam ou pensariam uma coisa destas, com receio de irem para o inferno e assim. Mas como explicar uma família durante séculos quase sem óbitos do género e outra igualmente numerosa sem tantos?

São mistérios. Mas uma coisa é certa: Nós nascemos nesta era, temos vacinas para muitas doenças, já não se morre de sarampo, papeira (não com cuidados), gripes, constipações e outras que hoje já nem nos assolam a mente. Mas e todos que nos antecederam, que não tinham nada disto? Como sobreviveram se não possuíssem conhecimentos por nós entretanto esquecidos?