Quando andava no liceu, queria ser jornalista. Achava do mais cool que há não ter dois dias iguais, andar sempre de um lado para o outro em busca do próximo furo, escrever grandes manchetes e por aí fora. Inscrevi-me em Comunicação Social com esse objectivo, até que, quase a meio do curso, decidi que afinal queria trabalhar em publicidade. Queria ter ideias geniais, conceber campanhas publicitárias brilhantes, ganhar prémios atrás de prémios e ser a crème de la crème da coisa. Até que percebi (rapidamente) que o mundo da publicidade não era aquilo que eu idealizava. E que, para cada anúncio giro e digno de nota, existem cem anúncios do Tide, do Pingo Doce, do Feira Nova e do Cillit Bang.
No meio desses cem anúncios estará, certamente, a campanha da Hästens. A Hästens é uma marca sueca que fabrica camas totalmente feitas à mão por artesãos XPTO, utilizando apenas materiais naturais ultra-resistentes como o linho, a crina de cavalo e madeira de pinho do norte da Suécia - e cujos produtos custam entre dois mil e muitos e 60.000 euros (sim, leram bem, €60.000 por uma cama!). E a pergunta que se impõe é: então mas eles não tinham dinheiro para contratar uma agência melhorzinha?
O anúncio aqui publicado (e mais frequente) é tão mas tão mau que uma pessoa nem sabe por onde começar: será que a cama é tão boa ao ponto de nos transformar numa Jane de trazer por casa - e o lustre lá de casa numa liana urbana? (não, obrigada, eu cá gosto mesmo é de dormir). E tudo bem, os tempos são outros e toda a gente sabe que os escandinavos são um povo muito à frente, mas a miúda tinha mesmo de estar na cama não com uma, mas com duas outras miúdas (eu cá tenho crianças que folheiam a Lux, estão a ver)? Ou será que a miúda é sempre a mesma? Devo ser eu que sou pouco arguta e não percebo.
E depois ainda temos o ambiente pseudo-luxuoso da coisa (que mais parece tirado do Poltergeist), a jarra das flores a levitar, a chuva de brilhos prestes a abater-se sobre a cama... enfim, é daquelas coisas para que não consigo deixar de olhar, numa espécie de atracção fatal. E que só me faz interrogar-me sobre quem cria e aprova coisas destas? Because it takes (at least) two to tango... or to freak us out. Medo...
(escusado será dizer que não fui para publicidade)
4 comentários:
E aquele busto que se vê algures no jardim lá fora? E o contraste do colchão aos quadrados com o pseudoluxo do quarto? E a expressão da senhora a baloiçar? E... E... Christ, nem sei por onde começar...
Estes senhores não vêem os anúncios dos seus conterrâneos do Ikea (o negócio até é dentro do mesmo ramo e tudo...)? Tenho cá para mim que quando os outros fazem melhor nada melhor do que imitá-los... pelo menos não se fazem figuras tristes...
desculpem lá, meninas, mas isto começa logo com fazer-se publicidade a colchões... não podia dar boa coisa.
Pois é, como é que me pude esquecer do busto voyeur?! Shame on me...!
De facto, espondo assim as coisas, bolas, bom é que o anuncio não é...
Enviar um comentário