
Em Berlim, tive a oportunidade de conhecer uma das pessoas mais excêntricas de que tenho memória. Chama-se Sissel Tolaas, é de origem norueguesa e basta olhar para ela para percebermos que não estamos perante uma mulher normal.
Formada em Química e em Arte, começou a interessar-se pelo mundo dos cheiros no final dos anos 80, altura em que começou a indagar-se sobre a razão pela qual o nariz é preterido em prol das mensagens recepcionadas através dos olhos ou dos ouvidos.
Chegou rapidamente à conclusão de que as nossas capacidades olfactivas têm vindo a ser relegadas, que não existem cheiros bons nem maus e que a obsessão das pessoas em camuflarem os seus próprios cheiros acabou por prejudicar a comunicação natural (animal?) entre elas.
Passou anos a constituir uma "biblioteca" que hoje conta com mais de 7.000 cheiros, todos eles reproduzidos através da tecnologia
headspace e que se referem a tudo o que se pode imaginar, desde peixe ressequido a bananas podres.
Passou meses em diferentes cidades do mundo, a tentar captar as respectivas "essências" (para o que vasculhou ruas, caixotes do lixo, sarjetas e afins), pendurou-as em sacos iguais aos das transferências de sangue e ligou-os a um
software especial, que os fazia pingar para um tecido especial, desenvolvido pela NASA, sempre que se falava dessa cidade nas notícias. Passado algum tempo, o dito tecido encerraria em si "o cheiro do mundo".
Passou mais de um ano a ganhar a confiança de nove agorafóbicos para depois captar o seu suor (em situações de medo extremo), enviá-lo por UPS para o seu laboratório em Berlim e assim reproduzir "o cheiro do medo".
Passou mais de duas horas a relatar a sua história mas, apesar de trabalhar para o M.I.T. (
Massachusetts Institute of Technology), dar aulas em Harvard e colaborar com as maiores e melhores empresas do mundo (os Serviços Secretos norte-americanos quiseram contratá-la para identificar terroristas através do cheiro), não consegui deixar de considerá-la completamente louca. E de pensar que a loucura é, definitivamente, essencial à genialidade.
Já o contrário, não é necessariamente verdade. Veja-se o meu caso.